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8/12/21 às 15h14 - Atualizado em 6/10/22 às 12h45

Opinião/Alice, social e libertadora

Texto Lúcio Flávio. Edição: Sérgio Maggio (Ascom/Secec)

08.12.21

14:38:00

 

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Filho de lavradores do interior de Goiás, Daniel Leite Almeida tinha futuro incerto. Ou não, bastando seguir a sina histórica e social de milhares de pessoas em sua condição social, ou seja, trabalhar na fazenda com os pais. Resolveu seguir um caminho próprio no dia em que viu um coelho branco passar na sua frente. Ou melhor… Um bode preto!

 

O filme pode ser visto gratuitamente na plataforma InnSaei.TV

 

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Programação – 54º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

 

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A edição 54 – 2021

 

Eis a metáfora de uma vida toda transportada para a fábula musical, “Alice dos Anjos”, produção baiana que abriu a mostra competitiva do 54º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) nesta terça-feira (7), no Canal Brasil. Livremente baseado na clássica história, “Alice no País das Maravilhas” e reflexões do educador Paulo Freire, filme carrega fortes críticas às mazelas do país.

 

Divulgação: Ato3 Produções

“Muito louco pensar em fazer cinema porque venho de uma família que não teve acesso à arte, mal teve acesso à educação”, comenta o jovem diretor. “A primeira vez que entrei numa sala de cinema tinha 19 anos, trabalhar com audiovisual era algo distante, impensável”, diz.

 

Graças às histórias infantis contadas pela avó paterna, e as brincadeiras lúdicas inventadas com pedras e garrafas pets, Daniel alimentou paixão intensa pelos livros que o levaria à faculdade e dali ao cinema.

 

Direção de fotografia: Cris Lyra

 

“Quando penso na minha infância, percebo que já fazia filmes sem saber que eram filmes”, lembra. “Os livros era algo mais palpável do que cinema, então, com 12 anos, eu decidi que faria Letras, lá descobrir que era possível fazer faculdade de cinema”, conta.

 

O curso, por ironia do destino, ficava em Vitória da Conquista (BA), terra natal de um dos mais importantes nomes do cinema nacional, o vulcânico Glauber Rocha, cineasta de obras marcantes, entre outros, como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964) e “Terra em Transe” (1967). Quis o destino e o bode da fantasia que criou para vencer as agruras da vida, que ele estava no caminho certo.

 

“Deixei o que tinha e o que não tinha e fui para a Bahia fazer cinema, lá eu encontrei meu sentido existencial, descobri que não tinha outro lugar que me coubesse ao não ser o cinema”, exulta.

 

“Conheci o cinema do Glauber na faculdade, onde ele é bastante cultuado, sou apaixonado por ‘Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro’, ele tem um estilo inquietante, poético, que ultrapassa fronteiras”, comenta.

 

FERRAMENTA SOCIAL

Direção de fotografia: Cris LyraPermeado por memórias de infância e profundas questões sociais que ainda flagelam o Brasil, “Alice dos Anjos” é um musical que transpõe o universo lúdico e surrealista do inglês Lewis Carroll, para o sertão nordestino. Na trama, ela é uma menina negra que tem sua visão inocente da realidade transformada quando passa a seguir um bode negro.

 

Questões como educação emancipatória e pedagogia da libertação – temas recorrentes no discurso do filósofo Paulo Freire, uma referência direta – lutas de classes e opressão social perpassam a história, embora o excesso de citações culturais e alegóricas sobrecarregue um pouco o entendimento do espectador. É uma narrativa infanto-juvenil, que busca atiçar a reflexão dos adultos.

 

“O filme traz a relação de tudo aquilo que me inquieta. Acredito muito no cinema como uma ferramenta social, uma ferramenta de libertação que traz reflexões de coisas que estão por aí. Antes de ser artista eu sou um agente social, alguém que pode de alguma forma, contribuir para um mundo melhor”, defende o jovem cineasta de 30 anos, que admite ainda estar aprendendo fazer cinema.

 

 

“Alice dos Anjos foi uma escola para mim, onde, aprendi na prática cada uma das funções do cinema”, admite Daniel, diretor de vários curtas-metragens.

 

Protagonizado pela estreante Tiffanie Costa, que esbanja talento e carisma em seu primeiro trabalho, “Alice dos Anjos” traz ainda o paulista Fernando Alves Pinto na pele do bode preto e participação de grande elenco baiano. Impregnada de elementos regionalistas, a trilha sonora telúrica é assinada pelo baiano João Omar. Admirador do trabalho lúdico do cineasta e diretor de novelas, Luiz Fernando Carvalho (“Lavoura Arcaica” e “Hoje é Dia de Maria”),

 

Daniel Leite escolheu a pernambucana, Luciana Buarque para a direção de arte de “Alice dos Anjos”. O resultado é de um colorido vibrante.

 

“A estética do ‘Alice dos Anjos’ tem muito de Luiz Fernando Carvalho, uma figura, cujos trabalhos, se tornaram naquilo que gosto de assistir, consumir”, confessa.

 

Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)

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