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19/11/22 às 14h12 - Atualizado em 23/11/22 às 16h27

Série do DF é premiada no Ambiente de Mercado do FBCB

Texto: Bárbara Bergamaschi, Lúcio Flávio e Luis Andrade. Fotos: Hugo Lira. Edição: Déborah Gouthier/Ascom Secec

 

Sala do Cine Brasília, mostra plateia nas poltronas e, ao fundo, painel do Athos Bulcão

Público prestigia mais um dia de Festival de Brasília. Foto: Hugo Lira.

 

Um dos momentos mais aguardados da 55ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) foi a série de encontros batizada Ambiente de Mercado, destinada a preparar e promover encontros entre novos projetos e o mercado do audiovisual no Brasil. Após cinco dias de atividades, o ponto alto aconteceu nesta sexta-feira, 18 de novembro, coroando o evento, realizado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec) com a organização da sociedade civil Amigos do Futuro, como um importante palco para o desenvolvimento do cinema nacional.

 

A premiação dos pitchings abertos foi realizada no início da noite, sob clima de grande expectativa e ansiedade entre os participantes e o público, anunciando o projeto de série As Pajés, de Carina Bini e Júlia Tolentino, como grande vencedor. Desenvolvido no Distrito Federal e com recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), ele recebe o reconhecimento e a credencial para participar do Ventana Sur, um dos maiores eventos da América Latina para o mercado de conteúdo audiovisual, realizado em Buenos Aires, na Argentina. Incluindo passagem, consultoria e receptivo especial durante o evento, para auxiliar em encontros e negociações, o prêmio é uma parceria do FBCB com o Projeto Paradiso, mantido pelo Instituto Olga Rabinovich para impulsionar o crescimento profissional dos talentos do audiovisual brasileiro.

 

“É uma realização muito grande estar aqui e ser selecionado para o Ventana Sur, que é um mercado importantíssimo na América Latina. Esse é um estímulo pra gente lançar nossos projetos, porque ainda estamos começando, como cineastas independentes”, celebrou a vencedora Carina Bini. “Isso é muito bacana para o cinema no DF, pensar em como o apoio e a existência do FAC faz essas conexões. Agora a gente vai levar o que começou no FAC para outras fronteiras, isso é maravilhoso. O Festival de Brasília segue cumprindo esse papel de promoção e impulso na cadeia produtiva do Distrito Federal”, destacou.

 

 

Foram quase cem projetos inscritos e apenas cinco selecionados para participar da Clínica de Projetos, ministrada por Krishna Mahon e dedicada a orientar os realizadores a vender seus documentários, filmes ou séries. Além de As Pajés, os projetos Aviso, Dias em Sol, Favela.doc e No Por do Sol também foram preparados para a rodada de pitchings abertos com importantes players do mercado nacional, com o objetivo de fomentar a produção cinematográfica do Centro-Oeste.

 

Já na experiência do Encontro com os Players, diversos produtores em busca de co-produção e parcerias, em trocar experiências e preciosos contatos e negociar projetos puderam se reunir e esclarecer dúvidas com alguns representantes de grandes empresas de telecomunicações como Globo Filmes, Amazon Studios, GloboNews, Paramount, Band e Canal Brasil.

 

Natália Furtado, que trabalha com curadoria e aquisições no Canal Curta!, explicou um pouco sobre o interesse dos players no FBCB: “O Ambiente de Mercado do Festival de Brasília é importante pois é uma forma de fazermos pesquisa e encontrarmos novos conteúdos que estejam dentro do escopo e temáticas do canal. Viemos em busca de novos projetos que possamos ajudar a viabilizar junto ao Fundo Setorial ou mesmo licenciar projetos já prontos.”

 

Ainda pensando em formação dos participantes, o quinto dia de Festival de Brasília trouxe a premiada realizadora Marina Meliande para falar sobre a produção internacional do filme Um Animal Amarelo, dirigido por Felipe Bragança, filmado em Portugal e Moçambique. Com aporte de 120 mil euros, a obra foi realizada por meio de apoios bilaterais e institucionais entre os países envolvidos, por meio de edital da Ancine voltado especificamente para produções luso-brasileiras.

 

No debate, a cineasta falou sobre o processo de desenvolvimento, financiamento e distribuição do filme brasileiro no exterior. Meliande relatou, por exemplo, a existência da figura do agente internacional de vendas, muito presente em festivais europeus, mas que não é tão comum no Brasil. A produtora destacou ainda que o filme só foi possível porque contou com a preciosa parceria do coprodutor português Luís Urbano, sócio da produtora Som e Fúria, que produziu filmes de cineastas laureados, tais como o português Miguel Gomes e a brasileira Laís Bodanzky (filha de Jorge Bodanzsky, homenageado desta edição do Festival de Brasília). Segundo ela, também foi importante integrar à equipe o roteirista lusitano João Nicolau, que assina o roteiro junto com o diretor Felipe Bragança. “Estas parcerias foram essenciais para auxiliar no networking e também trouxe um olhar estrangeiro para o filme. Pensamos o filme também para a cultura e o senso de humor dos portugueses”, completou Meliande.

 

NA MÁGICA TELA DO CINE BRASÍLIA

Mas, naturalmente, nem só de debates, pitchings e conferências se faz um festival de cinema. Na tela do Cine Brasília ocorreu outro inesquecível momento desta 55ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, com a mostra realizada em homenagem ao veterano Jorge Bodanzky. Composta por quatro antológicos filmes, o encontro vai deixar saudade pela qualidade das obras e debates instigantes que mexeram com o público. Além de Brasília em Super 8, Utopia Distopia e Compasso de Espera, o último longa, exibido na tarde desta sexta-feira (18), foi o impactante documentário Amazônia, a Nova Minamata?, mais recente trabalho do cineasta.

 

O filme em forma de denúncia é a triste crônica de uma tragédia anunciada. Traz à tona o drama do povo Munduruku, que luta para conter o avanço do garimpo e de uma doença que afetou moradores da cidade de Minamata, no Japão, há 50 anos, por conta da contaminação do mercúrio. A urgência do tema é gritante, com uma história que, infelizmente, se repete. “É sempre emocionante e uma honra estar neste palco e poder mostrar filmes nesta tela, é indescritível para mim”, disse Bodanzky antes da exibição do filme. “Praticamente é uma projeção inaugural. A primeira vez aqui em Brasília e um momento que não dá nem para descrever como é importante para mim.”

 

 

No debate realizado após a sessão, no hall do Cine Brasília, depoimentos de revolta, protesto e indignação se misturavam com palavras de apoio e afago. “As pessoas ainda não entenderam o que estamos passando no dia a dia, estão surdos e cegos. A Amazônia é a nossa vida, defender a Mãe Terra é a nossa luta”, disse, emocionada, Alessandra Korap, uma das indígenas da etnia representada no filme. “Além do mercúrio, outro inimigo do povo Munduruku é a falta de informação e a omissão”, alertou o produtor do filme, Nuno Godolphim.

 

Na Mostra Brasília, certame paralelo dedicado às produções realizadas no DF, sempre prestigiada por um público cativo e participativo, uma constatação: a presença impactante de muitos projetos realizados com recursos do FAC, importante instrumento de fomento cultural local, louvado por alguns dos realizadores no palco do Cine Brasília ao longo dos dias do Festival.

 

Dirigido pela dupla Augusto Borges e Nathalya Brum, o primeiro filme da mostra na sexta-feira (18) traz uma história sobre personagens periféricos, Rian e Pigarro, em Plutão não é tão longe daqui. Ácido, profético e inteligente, a comédia Manual da Pós-Verdade, de Thiago Foresti, apresenta um enredo distópico conduzido pelo jornalista Sérgio, o único personagem lúcido em uma realidade paralela, vivido por Wellington Abreu. Antes da exibição, o diretor resumiu: “A cultura é a vacina contra a máquina do ódio”.

 

Passado e presente, memória e culpa se misturam no drama político O Pastor e o Guerrilheiro, de José Eduardo Belmonte, que volta a dirigir uma ficção em Brasília, cidade que o projetou no cinema, desde A Concepção, de 2005. Na trama, cheia de labirintos da alma, está a relação de amizade e cumplicidade entre um pastor e um comunista em plena ditadura militar. Pontuado pela fotografia sombria e atuações sóbrias, o longa talvez seja um dos trabalhos mais maduros do cineasta, que não marcou presença no palco do Cine Brasília, mas mandou um recado para o público do FBCB: “O filme diz muito sobre mim e em questões nas quais eu acredito”, explicou. “A perseverança na construção de um mundo mais igualitário, a força do diálogo para dirimir conflitos, a necessidade de ouvir e considerar os outros. É um filme que fala muito sobre os temas atuais.”

 

COMPETITIVA NACIONAL

As sessões desse que foi o quinto dia da 55ª edição do Festival de Brasília se encerraram com a Mostra Competitiva Nacional. Nos três filmes exibidos na noite de sexta-feira (18) há um ponto em comum: o afeto entre os personagens, em tramas que valorizam o ser humano. Vindo direto de Recife, Pernambuco, Capuchinhos, de Victor Laet, conta uma história em que o virtual se confunde com o analógico, num absurdo total em que os atores falam sem parar e aparecem de ponta cabeça. No palco do Cine Brasília, o diretor contou que alguns meninos, que acompanhavam as filmagens, fizeram o melhor comentário do que é a obra: “que filme djoidjo”, imitou, arrancando gargalhadas do público.

 

 

Já o drama urbano paraibano Nem o Mar Tem Tanta Água é da diretora “cearense, nordestina e indígena”, como fez questão de destacar Mayara Valentim. O curta conta a história de Babi, vivida por Laís de Oyá, uma jovem independente e segura de si, que ama e vive a vida com a mesma facilidade com que pedala pelas ruas da cidade. “É um filme sobre a possibilidade de afetos não hegemônicos”, destacou a diretora.

 

Encerrando a noite, o longa mineiro Canção ao Longe, de Clarissa Campolina, que acompanha a rotina de Jimena, uma jovem que busca sua identidade por meio da reconstrução de laços familiares. Nas entrelinhas de sua jornada pela busca do “eu”, questões universais como tradição, raça, gênero, família e luta de classe. “Estamos muito felizes de poder exibir o filme nesta tela, sempre é muito emocionante com esse público, com essa sala cheia”, agradeceu a cineasta.

 

Vale lembrar que todos os filmes da Mostra Competitiva estão sendo exibidos, simultaneamente, em Samambaia e Planaltina, com sessões gratuitas e que integram uma ação de descentralização das atividades do Festival de Brasília. Nesta sexta-feira (18), o Complexo Cultural de Planaltina, localizado no centro da região administrativa mais antiga do DF, ficou movimentado, atraindo moradores da região para assistir aos três filmes da noite.

 

Cada um dos espectadores recebeu um ingresso com código para votar em seu filme favorito, ajudando a decidir, no próximo domingo, quem serão os grandes premiados do FBCB. Na plateia estava Bruna Valverde, que destacou as vantagens de não precisar se deslocar até o Plano Piloto para consumir cultura. “Sou moradora de Planaltina e adoro participar dos festivais de cinema que acontecem aqui em Brasília. Com essa atividade descentralizada, consegui dar um pulinho aqui e aproveitar tudo o que o Complexo Cultural pode oferecer. Adorei os filmes apresentados e, claro, já escolhi o meu favorito”, celebrou a estudante.

 

SERVIÇO:

55ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

De 14 a 20 de setembro

Local: Cine Brasília

Exibições também no Complexo Cultural de Planaltina e de Samambaia

Confira a programação completa em: https://festcinebrasilia.com.br/programacao/

Ingressos nas bilheterias

 

Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)

E-mail: comunicacao@cultura.df.gov.br