04/01/2022 às 16h00 - Atualizado em 24/02/2025 às 18h47

Grafite teve aporte histórico de R$336 mil

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Texto: Loane Bernardo. Edição: Sérgio Maggio (Ascom/Secec)

10.01.22

09:00:03

 

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No ano de 2021, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) investiu na ressignificação dos espaços públicos por meio da arte urbana. Responsável por elaborar editais e coordenar o Comitê Permanente do Grafite, a pasta encerrou o ano com um saldo positivo de artistas remunerados pelas intervenções artísticas, promoção de políticas públicas e pela transformação de espaços públicos em galerias a céu aberto.

 

Gustavo Santana “Trabalhamos pelo fortalecimento dos valores da cultura hip hop, em que um dos principais propósitos é o resgate social. Eventos como esses valorizam os pilares da arte urbana e age efetivamente no processo de inserção social. Levar a arte do grafite às ruas é trazer aos olhos a alma dessa cidade diversa”, aponta o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues.

 

As ações foram gestadas pela Subsecretaria de Economia Criativa (SUEC) que teve aporte financeiro maior em relação aos anos anteriores: o montante de R$336 mil em dois editais direcionados à arte urbana. A partir de um maciço mecanismo de linguagem e acessibilidade, essa política pública conseguiu expandir o número de vagas e contemplar mais grafiteiros e grafiteiras, ampliando assim a expressão, além de proporcionar o intercâmbio artístico-cultural e incentivar o empreendedorismo no movimento que colore ruas de todo o mundo ganha cada vez mais voz no Distrito Federal.

 

W3 ARTE URBANA

 

Em dezembro, a Secec selecionou 27 artistas urbanos para trabalhar no projeto “W3 – Arte Urbana”, que aconteceu nos dias 27 e 28 de novembro, e 4 e 5 de dezembro, na avenida W3 Sul, uma das áreas mais populares de Brasília.

 

“O objetivo foi o de expandir e democratizar o acesso à arte e à cultura, contribuindo para atrair visualmente e transformar a atmosfera dos espaços público do DF”, ressaltou a subsecretária  Érica Lewis, que comemorou a superação da reserva de vagas de 30% para mulheres. O resultado primou para um equidade de gênero (44,4%).

 

Com o aporte de R$ 81 mil, a ação da Secec, em parceria da Secretaria de Estado de Governo do Distrito Federal  (Segov), Secretaria de Estado de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (Semob), Secretaria de Projetos Especiais e Administração Regional do Plano Piloto, remunerou cada grafiteiro com no valor de R$3 mil, por sua intervenção artística de tema livre em uma parada de ônibus da W3 Sul, com a área total de 20 m². Ao todo, 27 paradas da W3 Sul, que correspondem a 10 quilômetros, foram coloridas pelos diversos estilos da cultura hip hop.

 

“A W3 Sul passa por uma recuperação histórica feita pelo governo. Tem a vocação para a cultura e clama pela movimentação da economia criativa. Nada mais justo do que ter obras de arte espalhadas por toda via.”, aponta Bartolomeu Rodrigues.

 

De modo descentralizado, o edital conseguiu contemplar artistas urbanos de diversas Regiões Administrativas do DF: Recanto das Emas, Guará, Riacho Fundo, Ceilândia, Riacho Fundo, Núcleo Bandeirante, Luziânia, Plano Piloto, Sudoeste/Octogonal, Plano Piloto, Arniqueira, Águas Claras, Guará, Santa Maria, Guará, Vicente Pires, Planaltina, Lago Norte, Recanto das Emas e Jardim Botânico. Cidades da RIDE também tiveram seus contemplados nos municípios de Valparaíso de Goiás, Luziânia e Novo Gama.

 

“A Secec comprou meu trabalho. Isso é um motivo de orgulho para mim”, afirma Douglas Retok (Douglas da Silva Sousa), 27, grafiteiro desde os 14 anos, que ilustrou a parada de ônibus da Entrequadra 707/708 Sul. Pintor residencial e tatuador, ele entende o grafite como “arte que evoluiu da pichação” e se constitui num “resgate social” da prática.

 

A fala de Douglas ecoa o Decreto Distrital 39.174 (2018), que institui a valorização do grafite como política de estado no DF e reconhece, na diversidade e no caráter popular de arte, dois princípios que regem a iniciativa oficial, entre outros como promoção de identidades, de diversidade cultural brasileira, de territorialidade e pluralismo cultural, geração de renda.

 

Grafiteira Lua Nzinga

Outra selecionada, Nzinga, 26, diz que usa a arte de raízes africanas “para fazer o resgate da ancestralidade”. Conta que seu nome artístico é inspirado na mítica rainha de Matamba (África, atualmente Angola). No século XVII, essa mulher liderou matriarcado que combateu e venceu homens num contexto de guerras diante da crescente escravização de povos africanos pelos portugueses e outros brancos europeus.

 

“Muitos jovem dizem que faltam oportunidades culturais na vida deles. Vivem em vulnerabilidade e carecem de oportunidades. Acredito que o grafite pode mudar isso.”, arrematou.

 

IV ENCONTRO DO GRAFITTI

Em junho, o viaduto da Galeria dos Estados deixou de ser só uma estrutura de concreto cinza que sustenta a passagem de veículos. Em seus vãos, cores, formas e estilos se misturaram em uma centena de mãos de artistas selecionados para o IV Encontro de Graffiti.

 

Numa ação da Secec, o IV Encontro do Graffiti foi a mais pura política pública de valorização da arte urbana, uma das pioneiras no país. Foram investidos R$ 255.714,63 (sendo R$ 150 mil só de cachês). Cada artista recebeu um cachê no valor de R$ 1.5 mil. O legado da Galeria dos Estados transformada por 2000 sprays de tintas em dois finais de semana é de pertencimento e valorização artística.

 

“Reinaugurada, a Galeria dos Estados é um destaque no coração de Brasília. O encontro trouxe para a comunidade e os artistas participação e inclusão. A Galeria dos Estados recebeu muito bem as cores da alegria das expressões artísticas e Brasília se tornará a capital do grafite. Viva à arte urbana do DF!”, celebrou o secretário.

 

A ocupação de artistas visuais numa área de aproximadamente 1.500 metros quadrados da Galeria dos Estados provocou de imediato uma sensação: Brasília ficou mais diversa, democrática e inclusiva. Com 92% de criadores vindos das Regiões Administrativas fora do centro político-administrativo do Plano Piloto, a arte espalhada pelos vãos do viaduto provoca um mosaico de sensações que, provavelmente, não seria possível perceber sem essa representatividade.

 

Para evitar aglomeração, os artistas foram divididos em grupos ao longo de quatro dias. Devidamente aparelhados com máscaras de proteção contra a Covid-19 e equipamentos de segurança de escalada como capacetes, cintos e mosquetão (ganchos), os grafiteiros trabalharam, literalmente, nas alturas, em cima de estruturas de andaimes montadas especialmente para as intervenções projeto.

 

ARTE URBANA É POLÍTICA PÚBLICA

 

Muitos artistas visuais urbanos imprimiram pela primeira vez a sua arte na capital federal. Antes, nunca tiveram essa oportunidade. O resultado artístico fala por si. A representatividade negra, por exemplo, foi fortemente estampada nas figuras e no imaginário das crenças, dos mitos e das matrizes africanas, bem como na tradução de seus cotidianos. A presença de elementos culturais de Brasília (lugares, fauna, comportamento) e da influência nordestina estão presentes nas criações.

 

Foto de Hugo Lira

Érica Lewis

Érica Lewis considerou o evento uma grande oportunidade de dar visibilidade ao grafite e estimular a interação dos artistas com os espaços públicos da cidade.

 

“Foi um passo de um projeto maior, de estímulo ao empreendedorismo cultural, valorização da arte urbana e ressignificação de espaços, sendo a Galeria muito representativa pelo grande fluxo de pessoas todos os dias”, relata.

 

A presença feminina de grafiteiras, garantida graças a cota de 30% do edital, reflete-se em desenhos de empoderamento da mulher. Figuras fortes, de deusas e de mulheres comuns explodiram em cores nas paredes, trazendo questões como a equidade de gênero, valor da ancestralidade feminina e a denúncia contra a violência.

 

Na nova galeria grafitada, os estilos também se misturam nas paredes, provocando um passeio à parte. É possível observar o stencil, grafite feito no molde, convivendo com o 3D, aquele desenho que parece sair do muro. Há ainda as telas mais figurativas e realistas, as de influências surreais que parecem dialogar com o universo das tatuagens e o grafite mais tribalista e codificado por estilos conhecidos como Wild (setas e letras, às vezes indecifráveis), thrown up (vômito em inglês, feito rapidamente e remete a letras) e bombing (um thrown up com letras bem mais arredondadas). Há ainda o diálogo com artistas visuais modernos, como Rubem Valentim e os grafites tags, que representam a assinatura dos artistas e revelam seus estilos.

 

Crédito: Gustavo Santana

Carlos Astro

Morador de Ceilândia e grafiteiro há 32 anos, Carlos Astro traz a importância do grafite como um transformador de vidas, descrito no livro “Uma Vida, Dois Mundos”, para o painel que produziu.

 

“Hoje vivo da arte. O grafite me salvou e continua salvando vidas, formando novos artistas. Para este encontro, fiz uma homenagem ao Comitê Permanente do Grafite e o quanto este trabalho dá força para a nossa arte urbana”, destacou o veterano da arte urbana no DF.

 

Crédito: Gustavo Santana

Priscila Peçanha

Moradora de Samambaia, Priscila Peçanha revela que sempre buscou participar de eventos como o Encontro do Graffiti. Grávida de sete meses de uma menina que se chamará Dora, a artista atua no grafite há sete anos e seu desenho retrata o poder místico do sagrado feminino e seu encontro com a natureza.

 

“Combinamos uma conexão para que este painel coletivo transmita todos os nossos anseios e lutas”, acrescenta a artista.

 

Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)

e-mail: comunicacao@cultura.df.gov.br