Texto: Alexandre Freire. Edição: Lúcio Flávio
Os equipamentos da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) guardam, conjuntamente, em seus cinco museus e em outros locais dispersos pela administração, 9.639 itens entre objetos de arte, de cultura indígena e considerados históricos, ligados à construção da capital. O levantamento do acervo, com catalogação de todas as peças e laudo das condições de cada uma, acaba de ser concluído.
Servidora da Secec atualmente lotada no Museu Nacional da República (MuN) e autora da justificativa que fez decolar o trabalho de mapeamento dos acervos, num projeto de cooperação técnica internacional entre a Secec e a Unesco, braço da ONU para cultura, ciência e educação, a museóloga Daniele Pestana comemora a iniciativa. “Esse trabalho já deu frutos e teremos outros mais”, destaca. “O mapeamento nos permitiu conhecer o acervo do Museu Nacional da República, o que contribui para aprimorar nossas estratégias na construção do plano museológico, em curadorias, pesquisas e ações de conservação e restauração”, emenda a diretora do MuN, Sara Seilert.
O museu, localizado no Conjunto Cultural da República, abriga 1540 obras, 16% do acervo geral da Secec. A consultora Fernanda Werneck, uma das profissionais contratadas na cooperação técnica com a Unesco, trabalhou oito horas por dia no MuN, ao longo de cinco meses, isolada na área de reserva técnica do museu, onde ficam guardadas as obras que não estão em exposição, a fim de catalogar o material. Foi um período solitário, só quebrado pela presença eventual de estagiária em meio período e um servidor para manusear e mover as obras de arte. “Ouvia música, geralmente instrumental, jazz e clássica”, conta ela sobre a rotina diária.
O trabalho de Werneck, museóloga autônoma, mestre em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília (UnB) e professora substituta do bacharelado em Museologia na instituição, confirma a vocação do MuN como repositório de arte contemporânea em várias linguagens – colagem, desenho, escultura, fotografia, gravura, instalações, arte virtual, objetos, performances, pintura, projetos e videogravações.
Números
O mapeamento dos acervos mostra que o espaço com maior número de itens é o Museu Vivo da Memória Candango (28,1% do total da Secec, com 2712 peças), seguido pelo Memorial dos Povos Indígenas (20,1%, 1942 unidades) e Museu de Arte de Brasília (17,5%,1687 obras). Em seguida vem o MuN e, depois dele, há 1292 peças em acervos dispersos (que não são museus) e, fechando a lista, aparece o Catetinho (4,8%, 466 itens). Todos são equipamentos da Secec.
“O mapeamento significa conhecer a fundo a realidade dos nossos museus, já que os acervos são a mola propulsora de qualquer política de exibição. Através desse mapeamento, os museus estão se olhando no espelho”, compara o subsecretário interino do Patrimônio Cultural, Felipe Ramón.
A metáfora esconde o fato de que, para além de se verem no espelho, o mapeamento permite aos espaços de exposição retocar as próprias imagens, investindo em suas vocações por meio da definição de políticas de aquisição e descartes. A cooperação técnica com a Unesco envolveu três produtos, já entregues pelos consultores contratados. Além da catalogação de todas as peças e laudo de condições de cada uma, um texto propositivo indica horizontes para os acervos e a disponibilização pela internet das coleções, por meio de um banco de dados. Servidores da Secec estão neste momento na fase de alimentá-los. Resultados parciais que já estão acessíveis para o MuN. A plataforma utilizada é o software livre Tainacan.
História
A consultora Tariana Stradiotto trabalhou no Catetinho e no Museu Vivo da Memória Candanga. “O meu papel foi o levantamento de todas as peças com potencial museológico que estavam nas duas instituições”, explica ela. Nos dois espaços, houve a necessidade de conferir o valor histórico de objetos que remontam à construção da capital, organizando dados sobre as peças, explica a historiadora e museóloga.
No MPI, o acervo foi estudado pelo museólogo Éder Oliveira, que tem especialização em Gestão de Museus com Ênfase em Cultura e é mestre em Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Santa Maria. O trabalho dele foi realizado entre abril e novembro do ano passado e não incluiu o acervo doado pela Polícia Federal há dois anos, com lotes de material recuperado ao contrabando. Esses são cerca de 11 mil objetos etnográficos, de diferentes nações indígenas, cuja catalogação vai exigir adequações estruturais para abrigar os frágeis objetos, parte dos quais ficou quase 20 anos recolhida na PF.
O museólogo Éder Oliveira se debruçou sobre bens culturais oriundos da criação do MPI, como destaque para a coleção Berta Ribeiro e peças de doação mais recentes. O consultor enfrentou dificuldades como lacunas documentais, desorganização de registros e peças em más condições de conservação.
O Centro Cultural Três Poderes (CC3P) e o Museu de Arte de Brasília (MAB) e obras diversas, espalhadas, receberam atenção da consultora Ivy Souza da Silva, mestre em Memória Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis pela Universidade Federal de Minas Gerais, além de bacharel em Artes Plásticas.
Ivy Souza da Silva (de pé) no MAB
Com acervo mais tradicional se comparado ao MuN, o MAB se diferencia pelo fato de a maioria das obras serem pintura sobre tela, madeira, esculturas, desenhos sobre papel e fotografia. O acervo conta com coleção do ateliê de Rubem Valentim, ao qual Silva se refere como “um museu dentro de um museu”.
Tendo tido outras finalidades antes de se tornar museu, a consultora registra no memorial de seu levantamento que o MAB “é composto hoje por obras sem unidade formal, estilística ou de gênero, imprimindo a seus gestores a necessidade de traçar diretrizes para compor a missão do museu e assim definir com objetividade sua política de aquisição e descarte”.
Algumas peças do conjunto de obras diversas eram praticamente desconhecidas da Secec porque foram doações – de vários materiais, técnicas e formatos – pouco documentadas, algumas das quais restaram depois de exposições.
A Secec tem a partir de agora esse conjunto de informações organizado e, ainda sem prazo definido, tudo estará disponível para consulta pública pelo Tainacan. Como lembra Seilert, “o mapeamento é um trabalho que deve ser feito de maneira contínua, porque os acervos crescem e mudam com o tempo e também carecem de trabalhos de preservação continuada”.
Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)
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