Governo do Distrito Federal
20/06/23 às 10h50 - Atualizado em 25/07/23 às 16h36

Rolezinho Literário leva literatura a pessoas em situação de rua

Texto: Alexandre Freire. Edição: Lúcio Flávio

 

“Você tem fome de quê?”, pergunta a música “Comida” (Titãs, 1987). O projeto Rolezinho Literário acredita que uma das respostas é que as pessoas em situação de rua também desejam livros. No sábado passado (17), essa iniciativa do coletivo Comunikey Eventos Culturais Ltda, com apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa e do Instituto Neoenergia por meio do programa de Incentivo Fiscal do Distrito Federal, mais conhecido como Lei de Incentivo à Cultura (LIC), provou isso.

 

O gramado ao lado da administração do Parque da Cidade foi tomado com programação destinada à população que vive em situação de rua, dezenas de moradores de ocupações precárias de Samambaia e do Plano Piloto, agentes de leitura, contadores de estórias, bibliotecários e outros agentes da língua escrita e oral. O evento contou com bibliotecas em estantes de tecido, piquenique literário com lanche natural, contação de histórias, bate-papo com autores, acesso a livros e entrega de acervos literários para as comunidades que participaram. Novo encontro do Rolezinho está programado para 9 de julho na área  externa do Eixo Cultural Ibero-Americano (antiga Funarte, equipamento da Secec).

 

A ideia desse projeto de inclusão surgiu em 2020 durante a pandemia, quando o publicitário Diogo Urquiza, que já havia trabalhdo como coordendor de vulnerabilidade social da então Secretaria de Estado do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH), quis fazer chegar livros aos moradores de rua.

 

 

“Um dia estava voltando para casa, na Asa Norte, quando na altura da 910, avistei crianças sentadas num sofá abandonado na rua, com livros na mão”, conta Urquiza, que é filho de uma das fundadoras da Mala do Livro, Cleide Soares. Ele parou o carro, foi conversar com as crianças, os pais delas (recicladores de lixo) e saiu do encontro decidido a buscar apoio. No ano passado, a Comunikey foi selecionada no edital “Transfomando Energia em Cultura”, da Neoenergia, no valor de R$ 199.960 para ultrapassar a barreira da caridade e fazer política pública.

 

O recurso gera alguns postos de trabalho: uma bibliotecária, uma auxiliar de biblioteca, agentes de leitura, escritores e contadores de histórias. O grosso, contudo, é destinado a logística de transporte e alimentação das pessoas em situação de rua que são convidadas a participar, além da aquisição de acervos de livros, que em parte também vêm de doações de editores e outras pessoas. O dinheiro paga ainda intépretes de libras para atingir pessoas com deficiência.

 

No sábado, Marluce Franklin, agente de leitura da Mala do Livro e uma das fundadoras e presidente da AACONTE, a associação dos agentes de leitura, esteve no Eixo Cultural dando uma oficina de contação de histórias. “Foi pra comunidades excluídas desses equipamentos públicos, que precisam criar o hábito da leitura. Os livros são muito bons: literatura brasileira, infantil, pesquisa enfim, contribuímos com nossas experiências em comunidades assim”, conta entusiasmada. “Tem caso de gente nessa situação que já passou em concurso”, afiança.

 

Segundo Urquiza, a grande maioria das pessoas que estão em situação de rua sabe ler, e o grosso das crianças em idade escolar frequenta escolas em meio período, ficando com os familiares na outra parte do dia, na lida da sobrevivência. O Rolezinho também tem o objetivo de quebrar a resistência de pessoas em situação de rua em entrar em prédios públicos. Segundo Urquiza, elas desconhecem as possibilidades oferecidas por esses equipamentos ou se sentem pouco à vontade para transpor a entrada.

 

“Esse projeto tem o objetivo de apresentar a essas pessoas os serviços na área de literatura. Eu presenciei no sábado uma conversa com uma museóloga a respeito de monumentos e educação patrimonial. Muitos moradores de rua moram ao lado de nossos monumentos. O projeto também selecionou um acervo rico de livros, que constituem legados para as comunidades. É uma iniciativa que merece todo o nosso apoio”, afirma a diretora da Biblioteca Nacional de Brasília (BNB), Marmenha Rosário.

 

O Rolezinho Literário já levou pessoas em situação de rua à BNB e também à Biblioteca Central da UnB. Urquiza conta que as crianças nunca tinham entrado na UnB e ficaram encantadas. “Eles diziam para as bibliotecárias que as receberam para uma visita que queriam estudar lá. Ouviram de volta, de uma dessas servidoras, que deveriam estudar muito e que ela (a bibliotecária) estaria lá esperando por elas”.

 

Mais informações no Instagram do projeto.

 

Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)

E-mail: comunicacao@cultura.df.gov.br