Texto e edição: Sérgio Maggio. Fotos: Hugo Lira (Ascom/Secec)
14.01.22
12:00:00
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Uma das mais representativas e importantes casas de espetáculos do país, o Teatro Nacional Claudio Santoro rompe, nesta sexta-feira (14.1), com oito anos de palco vazio e luzes apagadas. O secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, assinou o projeto básico para obras de edificações que compõem o edital de licitação elaborado pela Novacap. Dessa forma, empresas aptas vão apresentar as propostas para concorrência com o teto orçamentário de R$ 55 milhões.
“É com muita alegria que anunciamos ao Brasil o começo das reformas do Teatro Nacional a partir da Sala Martins Pena. Trata-se de um dos maiores símbolos do patrimônio nacional, obra tombada de Oscar Niemeyer, de valor artístico e cultural inestimável. Por determinação do governador Ibaneis Rocha, vamos mostrar a diferença de um governo de ação”, comemora Bartolomeu Rodrigues.
Assim que avalizou a documentação do edital, Bartolomeu Rodrigues fez questão de ir à Sala Martins Pena, objeto de extensivo trabalho que ocupou toda a sua pauta de trabalho desde que assumiu a pasta da Cultura em dezembro de 2019.
“Ouvimos todo tempo que o Teatro estava largado. O Teatro Nacional esteve largado. Mas não por este governo. Todos os dias, esse bem patrimonial foi motivo de esforço e de preocupação de uma equipe multidisciplinar e comprometida. Trabalhamos até chegarmos ao tempo em que não poderíamos esperar nem mais um minuto” observa.
Acompanhado da equipe técnica da Secec, Bartolomeu emocionou-se ao ter a reforma da Sala Martins Pena sair do campo do desejo para a concretude do canteiro de obras.
“É um sonho que estava frustrado em gestões anteriores e, nesta, conseguimos realizar. É histórico anunciar que as obras vão começar, e esse teatro vai voltar a fazer girar a economia criativa. Cada espetáculo que chega nesse palco contrata equipes técnicas diversas, traz o pipoqueiro para porta e ainda enche as mesas dos restaurantes após o fechar das cortinas”, celebra o secretário-executivo, Carlos Alberto Jr., entusiasta da reforma.
O impacto da obra se reflete também na economia do Distrito Federal. Com a reforma da Sala Martins Pena, estima-se a geração de 700 empregos diretos e 2100 indiretos movimentando também a economia do DF.
A REFORMA
Por ser um bem tombado individualmente, o Teatro Nacional requer uma reforma sob rígidas normas de restauro. A obra é um convênio entre a Secretaria de Cultura e Criativa (Secec) e a Novacap, que vão atuar em conjunto com funções estabelecidas no Projeto Básico.
Essa é a primeira etapa da reforma do Teatro Nacional Claudio Santoro a partir do projeto executivo de arquitetura elaborado pela empresa Acunha Solé Engenharia. A proposta enviada pela empresa concorrente deve apontar soluções técnicas para reforma das instalações prediais, sobretudo, elétrica e climatização; recuperação estrutural, restauração de pisos, revestimentos, esquadrias e de imobiliários, incluindo revestimento acústico, além de atualização tecnológica e de segurança das estruturas e dos mecanismos cênicos.
“Vamos devolver para a sociedade uma Sala Martins Pena moderna e em conformidade com o restauro do bem tombado”, destaca o secretário.
O CAMINHO DA REFORMA
Em janeiro de 2014, no rastro da tragédia da Boate Kiss, o Teatro Nacional foi fechado por recomendação do Corpo de Bombeiros e do Ministério Público, por não atender a normas de acessibilidade e segurança vigentes. Foram identificados 132 não conformidades. No mesmo ano, a então Secretaria de Cultura realizou licitação e posterior contratação do projeto executivo de reforma.
A complexidade arquitetônica do projeto e sua ousadia quanto aos recursos tecnológicos pretendidos resultaram em um orçamento total de mais de R$ 200 milhões. Nos anos seguintes, a crise econômica do país e, em especial, a constatação de uma delicada situação financeira do Distrito Federal tornaram inviável a realização da obra como um empreendimento único que demandaria a execução do valor integral previsto no projeto.
No governo Ibaneis Rocha, avaliou-se que a melhor alternativa seria a adequação do projeto executivo de forma a permitir a realização da obra em etapas, gradualmente, de acordo com a disponibilidade de recursos financeiros. Tal encaminhamento permitiria que, em uma primeira etapa, fosse reaberta a Sala Martins Pena, e em etapas posteriores as Salas Alberto Nepomuceno e Villa-Lobos e o Espaço Dercy Gonçalves.
No final de 2019, a Secec captou, junto ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD) do Ministério da Justiça e Segurança Pública, R$ 33 milhões, que seriam destinados à reforma da Sala Martins Pena. Foi assinado o convênio com a Novacap para elaboração do processo licitatório de obras.
Formou-se um Grupo de Trabalho, com um mutirão de técnicos e engenheiros e a presença dos gestores da Cultura e da Novacap. No entanto, a falta de documentos e as inconsistências técnicas no projeto originário desenharam um verdadeiro périplo para entregar o projeto básico para a Caixa liberar o recurso.
Foram mais de 400 plantas refeitas, e a equipe atendeu a mais de 2.000 pedidos de ajustes. Com o tempo exíguo e a urgência da reforma, o GDF resolveu desistir, em dezembro do ano passado, do Fundo por meio de distrato e resolver aportar diretamente o recurso para o restauro.
Confira nota da reforma
Nota/Reforma do Teatro Nacional
INAUGURADA POR CACILDA
Em abril de 1961, a companhia Teatro Cacilda Becker, dissidente do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), aterrissou na novíssima capital da República com a missão de inaugurar simbolicamente o Teatro Nacional, mais precisamente o espaço que, depois, viria ser a Sala Martins Pena (inaugurada oficialmente em 1966). Traziam três peças no repertório.
Quando chegaram, um susto. O teatro não tinha nem as poltronas, estava com os tapumes em volta. Não havia vidros, nada. Cacilda perguntou como aquele espaço seria inaugurado. ”
“De repente, vieram 50 homens com vassouras, um formigueiro, que trabalhou dia e noite”, contou a maior atriz brasileira daquela época.
Em 21 de abril de 1961, primeiro aniversário da capital, Cacilda Becker e Walmor Chagas apresentaram “Em Moeda Corrente”, espetáculo de Abílio Pereira de Almeida sobre o tema corrupção, em meio a ruídos externos da construção do Teatro Nacional.
Estudantes e operários encheram o espaço para ver aquela que era a principal atriz dos palcos na época. A biógrafa da atriz, Maria Thereza Vargas, conta que Cacilda fez questão de convidar todos os operários da obra. Ela estava feliz neste dia,
“Havia infiltração de ruídos e a acústica estava péssima, mas Cacilda e o elenco seguraram. De repente, faltou energia e o público não saiu do lugar”, lembra-se Thereza.
Faltou luz no meio da peça e a narrativa seguiu à luz de velas. O público estava encantado com esse negócio de teatro. A luz não demorou a voltar e a peça foi retomada segundo as manifestações de exclamações e risos. Uma das cenas mais ovacionadas era a que a personagem de Cacilda se ajoelhava aos pés do marido (vivido por Walmor) e clamava para que ele aceitasse a propina.
“Nesta hora, a plateia ria e chorava ao mesmo tempo. Era grotesco e lírico”, escreveu o crítico Décio de Almeida Prado.
Na cidade, com elenco formado ainda por Fredi Kleemann, Kleber Macedo e Alzira Cunha, Cacilda também apresentou “Pega-fogo”, um dos maiores sucessos da atriz, e “Protocolo”. Daqui, foram para turnê em Goiânia.
Inaugurada oficialmente em 1966, possui capacidade de 407 lugares, palco de 235 m², com 12 m de abertura e 15 de profundidade, 1 elevador e 15 camarins. No foyer, conta com painel de azulejos de Athos Bulcão e é bastante utilizada para exposições. Possui um busto de Ludwig Van Beethoven, doado pela Embaixada da Alemanha. Destina-se a saraus, performances, lançamentos de livros, coquetéis e exposições, com área de 412 m².
Um dos destaques da Sala Martins Pena é a obra “Painel Acústico”, de Athos Bulcão, localizada na parede direita (visão do palco). A obra é formada por 23 conjuntos de quatro peças de madeira envernizada, fixadas no topo da parede, dispostos em alturas variáveis. A obra tem uma variação contínua de altos e baixos relevos e é de 1978. O estudo de cores dos estofados, carpete e cortinas é assinado pelo artista.
Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)
E-mail: comunicacao@cultura.df.gov.br