Lúcio Flávio (Agência Brasília). Edição: Sérgio Maggio/Ascom Secec
10/3/2022
14:00:34
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Era uma vez uma menina com tinta no cabelo que andava pelas ruas de Brasília e um dia inspirou certo poeta do Cerrado a criar um dos maiores sucessos do rock Brasil. A canção? “Eduardo & Mônica”. É uma história, aliás, que muita gente conhece. O nome do bardo candango era Renato Russo, que viria a se tornar líder de uma das mais importantes bandas nacionais, a Legião Urbana. A musa-inspiradora para o hit esmagador, a artista plástica, Leo Coimbra, que foi uma de suas melhores amigas.
“Muitos casais próximos ao Renato o inspiraram, há muita licença poética na letra, o que cabe a mim mesmo é só a parte da tinta no cabelo”, comenta Leo Coimbra.
“Eduardo & Mônica, o filme, segue, em cartaz, no Cine Brasília, às 20h, com Ingressos a R$ 20 (inteira), até 17.3. Até, o momento o filme foi visto por mais de 400 mil espectadores
Como se sabe, os dois se conheceram sem querer no início dos anos 80, durante um show no Centro Acadêmico da Universidade de Brasília (UnB). Na época encarnando a fase “trovador solitário”, Renato tocava ao violão canções que, entre outras, se tornariam clássicas no cancioneiro nacional como a épica, “Faroeste Caboclo”, “Dado Viciado” e “Eu Sei”, que ele ainda chamava “18 e 21”.
“Renato tinha uma presença incrível, com aquele som muito louco, na época eu ouvia Clube da Esquina, Mutantes, Ney Matogrosso, falei: ‘cara, que coisa fantástica’”, revela Leo Coimbra, atualmente morando no México com o marido diplomata, Fernando, quem, de fato, já conhecia Renato e apresentou os dois.
“Eu e Renato começamos a ficar superamigos. Amigos mesmo! Na alegria e na tristeza. Ele vivia lá em casa e conversávamos sobre a vida, amores, desamores, projetos, sonhos. Faz falta!”, diz.
Nascida no Rio de Janeiro, mas desde os 9 anos vivendo na capital do país, Leo Coimbra confessa que se descobriu artista tardiamente. “Saí do armário da arte em 1994/95…”, brinca ela que, desde pequena, ainda no subúrbio carioca, demostrava um dom especial para pintura e cores.
“Na minha casa todo mundo desenhava, sempre nas ocasiões de troca de presente, meu pai trazia papel e tinta. E os nossos presentes era cada um fazer um desenho para o outro”, lembra. “Era o maior barato, uma festa linda, sentava todos nós na mesa, oito filhos, produzindo desenho para quem quisesse”, recorda.
NASCE UMA ARTISTA
A vinda de Leo Coimbra para Brasília inauguraria um estilo de vida em trânsito que perdura até hoje. Uma constante rotina de mudança com idas e vindas ao longo de mais de 20 anos do casal, juntos há mais de 40 anos, que a artista transformou em inspiração criativa.
“O primeiro posto do Fernando foi em 1991, em Washington, começamos a embalar a casa e colocar nossa vida, nossa história dentro de containers que atravessariam o mar para chegar ao destino”, conta. “Então, comecei a viajar nessa coisa da embalagem e usar como inspiração no meu trabalho. Fazer dessa história de vida particular a minha narrativa”, explica Leo, a partir dai se envolvendo de forma intensa com as artes plásticas.
Com 30 anos, tal qual num rito de passagem, Leo Coimbra resolveu dar uma guinada na vida, deixando as asas da criatividade ganharem voo. O clique existencial foi motivado pela morte do pai, em meados dos anos 1980. “Ele desenhava, cantava, tocava violão e nos estimulou a leitura, mas era um artista frustrado”, revela. “Um homem que tinha muitos filhos e trabalhava para sustentar a casa, não conseguiu desenvolver o trabalho dele como artista. Tornou-se uma pessoa amarga e sem esperança”, lamenta.
Os primeiros trabalhos nesta fase foram colagens em homenagens aos amigos que estavam indo embora de Brasília. Numa época em que computador, internet, e-mails pareciam ser ingredientes de um enredo de filme de ficção científica, ela começou a criar envelopes coloridos a partir de colagens. “Eles me ajudaram nesse processo de libertação”, destaca.
No início dos anos 1990, na capital americana, acompanhando o marido o diplomata, foi trabalhar como auxiliar do artista-plástico dominicano, Aurélio Grisanti, quem lhe deu um empurrão fundamental. A primeira coisa que fez foi levá-la à loja de artigos de pinturas para comprar telas, tintas, pincéis. “Ele disse para eu ir para casa e começar a pintar e não parei mais”, confessa. “Comecei a sentir que eu tinha algo para dizer, uma história para contar, que tinha que ir atrás da minha narrativa”, conta.
MORANDO PERTO DO VULCÃO
Leo e Fernando
Em 1994, morando no Equador, perto do vulcão, como canta Renato Russo na letra de “Uma Outra Estação”, música que escreveu a partir de trocas de cartas e ligações telefônicas com a amiga e artista, Leo Coimbra deixou se influenciar de forma passional pela topografia local, fazendo das montanhas, morros, paisagens vulcânicas e contato com a história das civilizações pré-colombianas, fonte de inspiração.
De certa forma, as cores e texturas andinas fez ressurgir, inconscientemente, os primeiros contatos com as tonalidades dos tempos de criança, durante as brincadeiras pictóricas com os irmãos.
“Tenho fascínio com a cor, minha viagem sempre foi cromática, mistura de cor”, admite.
E é verdade. Norteado por emoções e sensações que envolvem experiências de vidas e dos lugares por onde passou- que incluiu ainda o Quênia, na África, e o México -, Leo Coimbra apresenta um trabalho bastante pessoal e inspirado. São projetos sensíveis que fazem uso de cores vibrantes, traços únicos e ideias peculiares que vão desde telas translúcidas ao engarrafamento de sentimentos, ideias e impressões pops em pequenos potes de vidros, como mostra a coleção, “In Vitro”. A exposição, aliás, foi uma sensação no país do safári, com suas delicadezas em miniaturas.
“Tudo ao redor me inspira!”, confessa a artista. “A influência da cultura desses países se dar de maneira bem tênue, é mais uma vibração, uma sensação do que um resultado pictórico. E o resultado a partir da vivência desses lugares, influencia no meu estado de ânimo, humor, no meu enriquecimento intelectual”, acrescenta.
Na série, “Nove Mulheres”, a representação da figura feminina por meio de colagens e desenhos feitos a partir do inesperado, do caos cotidiano criado com a falta do que fazer, sentir e receber com a chegada da pandemia. “Por anos naveguei no abstracionismo caboclo, na arte pela arte, no aprendizado informal, sendo dona absoluta da minha narrativa pictórica”, confessa a artista, ao se referir à condição de autodidata. “Não passei por nenhuma escola, ser artista é uma necessidade de vida, preciso trabalhar para ser quem eu sou, meu trabalho me situa de maneira mais poética no planeta, na minha relação com os acontecimentos, com o meu dia a dia e é o meu equilíbrio”, filosofa.
Uma das primeiras exposições individuais que realizou, foi durante sua passagem pelo Equador, com os trabalhos da série “Fragmentos”, exibidos no Centro de Estudos Brasileiros, em Quito, capital equatoriana. Essa coleção também foi prestigiada pelo público brasileiro quando apresentadas no Museu da República, em Brasília.
E Brasília? “Brasília é a minha vida, é a minha cidade, tenho muitos amigos, uma história na cidade, meus filhos e netos nasceram Brasília faz parte do meu projeto, da minha trajetória artística quanto existência. Eu amo Brasília!”, se declara. “Se estivesse vivo, acho que o Renato teria nos visitado em todos os lugares em que vivemos”, comenta sobre o grande amigo.
Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)
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