“Esse texto foi escrito há dois anos, para homenagear um homem vivo, num momento de atividade quando ele se encontrava com os membros da Frente Nacional de Prefeitos em Fortaleza. Assim devemos cultivar a memória deste homem: como um Homem que lutou pela vida”.
Pedro Tierra
Alencar
Por Pedro Tierra*
Minas oferece a dignidade do filho
que a gente aprendeu a amar
à distância como se estivesse perto,
ao alcance dos olhos
ou do cuidado de nossas mãos.
Como aquela frágil vasilha
que, serena, do seu canto do armário
nos vigia: registra no silêncio barroco
da louça e da ternura
o alarido dos filhos,
dos primos, dos netos,
dos sonhos que não abandonamos,
sua passagem pela casa, pela vida
e se faz memória, herança de família.
Minas, há séculos, amamenta
com seu leite de metais fundidos
o impulso de Liberdade
que nos habita.
Um homem do povo,
da estirpe dos Otonis,
afeito a conferir ao sonho
o contorno palpável da matéria:
José Alencar.
De que serve afinal
nossa presença no mundo
se não para transformar a vida?
E se essa gente diversa e prodigiosa,
habitante dos trópicos,
com sutil sabedoria elaborou
na bacia de tormentos,
em cinco séculos tragada,
com sangue e sonho essa síntese
entre o impulso elementar do peão
filho da seca e do sol,
e a quintessência destilada
das montanhas de Minas?
Para oferecer a si mesma
em nome da felicidade coletiva?
“Aprender com humildade
a fragilidade da vida
para recolher dela toda a força
e viver cada dia
como se não fosse morrer nunca”.
Assim ouviu o poeta, palavras de sua boca.
Brasília, 29 de novembro, 2009.
*Pedro Tierra (Hamilton Pereira) é Secretário de Cultura do Distrito Federal.
Publicada em 2011