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3/02/23 às 10h00 - Atualizado em 6/02/23 às 11h56

Festa das Águas homenageia Iemanjá e Oxum

Texto: Alexandre Freire. Edição: Déborah Gouthier/Ascom Secec

 

Mulher branca e de cabelos vermelhos joga flores no lago

Entrega de oferendas no Lago Paranoá, durante a Festa das Águas. Foto: Hugo Lira/Ascom Secec

 

“Dia 2 de fevereiro/dia de festa no mar”, canta o conhecido samba do baiano Dorival Caymmi. Mas em Brasília, mesmo sem mar, também teve comemoração às margens do Lago Paranoá, nesta quinta-feira (2/2). Para marcar o dia dedicado a Iemanjá, uma das divindades das religiões de matriz africana, a Festa das Águas trouxe uma extensa programação, misturando o sagrado e o profano em diversos ritos e apresentações artístico-culturais.

 

Em sua quarta edição, a Festa das Águas é realizada pelo Instituto Rosa dos Ventos de Arte, com apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec), como uma das cinco manifestações populares que integram o Circuito Candango de Culturas Populares, iniciativa custeada por termo de fomento de R$ 469 mil, com previsão de 200 empregos diretos e indiretos até junho. Reconhecida como patrimônio cultural brasileiro e do DF, a Praça dos Orixás foi o palco das celebrações.

 

Mulher negra segura uma rosa branca

Mãe Baiana, diretora do Coletivo das Yás do DF. Foto: Hugo Lira

Na parte da manhã, um público de cerca de 500 pessoas acompanhava a dança das Yás (abreviatura de yalorixás), a defumação e os banhos de cheiro e as rodas para Iemanjá e para Oxum, divindade também homenageada nesta edição da festa. Muitos também aproveitaram para entregar suas oferendas e presentes, agradecendo e louvando o poder das águas correntes, simbolizando a relação das orixás com a natureza. Ao longo de todo o dia, muita música, dança, capoeira, feiras de gastronomia e artesanato e, sobretudo, muita fé.

 

Enquanto espaço político, a Festa das Águas também reuniu autoridades locais e a recém-empossada ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. “O DF tem uma representatividade muito relevante dentro da cultura de matriz africana do país. A Festa das Águas é um retrato disso. Em especial, nesta 4ª edição, tivemos a presença de representantes de importantes órgãos do governo distrital e federal, selando o compromisso de cuidado e revitalização com a Praça dos Orixás. Isso mostra a força e a potência que a Festa das Águas traz para o povo de terreiro”, afirmou a presidente do Rosa dos Ventos, Steffanie Silva de Oliveira.

 

Importante liderança local e diretora do Coletivo das Yás do DF, Mãe Baiana destacou as dificuldades enfrentadas pelos praticantes de religiões como o candomblé e a umbanda. “O racismo religioso mata, é feio, vamos combatê-lo”, destacou. “Nossa Praça existe, nossos orixás existem, nossa fé existe.” Pouco depois, um ponto cantado nas rodas dizia que “não importa a nação [religiosa], vamos levantar a bandeira da união”, exortando os presentes a defender a tolerância religiosa diante da liberdade de credo no Brasil garantida pela Constituição Federal de 1988.

 

PÚBLICO

A formanda em Gestão Ambiental na Universidade de Brasília (UnB) Vitória Ferreira de Meneses trazia em um sling o filho Victor Nauê, de um ano, que dormitava ao som dos atabaques. “Acredito nas religiões de matrizes africanas pelo acolhimento que dão. A gente ganha uma família. Isso é muito importante num mundo onde cada vez mais estamos cada um por si”, ensinava a mãe.

 

 

O advogado Cristiano Lopes, iniciado no Candomblé, deixou o terno em casa e, de branco e eketê (toca ritual) na cabeça, ensinava sobre o percurso do culto dos orixás. Segundo ele, essa manifestação conta com mais de 5 mil anos de existência no continente africano, onde há registros de devoção a mais de 300 orixás. No Brasil, há quase 500 anos a partir de Bahia e Rio de Janeiro, as divindades se traduziram em número menor, mas em semelhante importância. Justificava a presença das estátuas de apenas 16 divindades na Praça dos Orixás pelo fato de que lá estão as mais conhecidas, representando uma diversidade maior de manifestações de religiosidade de matriz africana.

 

 

Rafael Veiga, membro da casa de umbanda Fraternidade Universalista da Divina Luz Crística, no Núcleo Bandeirante, preparava a queima de incensos a fim de purificar o ambiente, convocando o axé (poder ou energia do local) para as rodas em homenagem a Iemanjá e Oxum. “Queremos promover a paz. Vamos benzer as pessoas, dar passes”, dizia entre maços de ervas e flores. Tudo feito de graça, por caridade, como frisou. Atrás dele, o Paranoá se preparava para o famoso cortejo de entrega de balaios, que começaram a ser preparados ainda de madrugada para manter as flores vívidas. A orla estava salpicada de pessoas com água até os tornozelos. Todos na expectativa de alcançar alguma graça.

 

A cerimônia continuou à tarde com rodas de samba, participação de DJs, apresentações de capoeira e shows da Orquestra Alada Trovão da Mata e do Zenga Baque Angola. Quiosques vários ofereciam comidas típicas da Bahia, artesanato, refrescos e bebidas e uma expectativa de receber, ao longo do dia, um público rotativo de 10 mil pessoas.

 

Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)

E-mail: comunicacao@cultura.df.gov.br